segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Malamulo - o hospital

O Malamulo Adventist Hospital faz parte de um espaço que compreende os seguintes:
- O hospital;
- Uma universidade "Malamulo College of Health Sciences" (que faz parte da Malawi Adventist University) onde se podem tirar Certificados ou Diplomas em Enfermagem e Midwifery (Parteira), em Medicina Clínica (Medical Assistant ou Clinical Officer) e em Tecnologia de Laboratório;
- Uma escola secundária;
- Uma escola primária;
- A igreja Adventista do sétimo dia;
- Hostels onde os estudantes vivem;
- Casas para os trabalhadores do hospital ou das escolas.

Dada a existência destes programas de estudos, o hospital recebe muitas vezes alunos que têm aulas práticas ou estágios, bem como vemos imensos por todo o campus, agregado ao hospital.
No fundo, o Malamulo, que fica numa região rural, é uma zona protegida e não se vê extrema pobreza, mas se nos afastarmos algumas centenas de metros vemos pequenas vilas com pessoas a viver muito mal... E são essas que, a maior parte das vezes, vêm ao hospital e querem ir embora o mais depressa possível pois não têm muito dinheiro para pagar a conta.

O Hospital é constituído pela Enfermaria Geral (que tem os doentes médicos e cirúrgicos separados, com alguns quartos semi-privados), Maternidade, Bloco Operatório (Theatre), Pediatria, Consultas, Anexo (edifício à parte com quartos privados), Laboratório, Clínica de Dia, Dentista (1x/semana), Fisioterapia, Radiologia, Saúde Comunitária, etc. - ver http://www.malamulohospital.org/ .
Como já vos disse, os Medical Assistants e Clinical Officers têm autonomia para fazer quase tudo no hospital: prescrever medicamentos, pedir análises, exames, internar, dar alta, e o médico é chamado quando há dúvidas ou quando é preciso.  Basicamente seguem protocolos, guidelines, mas posso diver-vos que alguns deles são muito bons no que fazem (sinto-me pequena em comparação com eles!). Os Clinical Officers podem, inclusive, realizar cesarianas, circuncisões, laqueações tubárias, punções, drenagens e outras técnicas e procedimentos cirúrgicos simples. Não obstante, os médicos revêm os doentes internados, mas não com a frequência que os outros clínicos revêm se esses estiverem estáveis. Nem todos os doentes, principalmente os da Enfermaria Geral Médica e Maternidade, são vistos todos os dias por um médico, mas penso que um Cirurgião (existe o Dr Hayton, que vive lá a longo prazo e, por vezes, um residente de cirurgia que fica lá durante 2 meses e vai rodando) vê os cirúrgicos todos os dias. O Dr Crounse, de Medicina Interna, não consegue ver todos os doentes médicos todos os dias porque está nas consultas externas quase todo o dia, bem como a outra médica recém-formada que aqui está por 6 meses, mas um deles roda sempre o Anexo e dá uma olhada pelas outras enfermarias para ver se está tudo orientado. Para além disso, os doentes principais, quer casos mais críticos, quer mais raros, são discutidos na reunião matinal diária, às 7:30, portanto os médicos estão a par do que se passa, embora haja, por vezes, casos que "escapam" devido à rapidez de evolução do quadro dos dados doentes, que são motivo principal de discussão das reuniões de quinta feira, estas mais prolongadas.
O hospital não tem muitos recursos, trabalha com o mínimo e grande parte dos materiais que recebe são doações. Mas claro que clinicamente isto é um grande desafio! Existe máquina de Raios-X, dois Ecógrafos portáteis e pelo menos um Eco Doppler, mas é óbvio que não existe TAC ou Ressonância Magnética. Existe um laboratório, mas de noite não tem ninguém, ficando apenas uma pessoa "de chamada" que vai para lá quando há algo emergente. Se dos IECAs só existe Enalapril, dá-se Enalapril. Se AINE oral só existe Diclofenac, dá-se Diclofenac. Só existem luvas L não esterilizadas e 7 1/2 esterilizadas (algumas 6 1/2 ocasionalmente). Os procedimentos assépticos, como uma punção lombar, por exemplo, fazem-se com recurso ao uso de pads de álcool apenas. Por vezes não há a sutura indicada para o que se quer suturar, mas é essa que se usa (por exemplo, usar uma que normalmente se usa para cozer o pé para cozer o canal vaginal após o parto). Os doentes têm que trazer comida de casa (a não ser que estejam em quartos privados no anexo, que tem uma pequena cozinha com cozinheiros) e por vezes é insuficiente para as suas necessidades. Não há sangue suficiente para transfusões por vezes. E tantas outras coisas...


A propósito da prática de Medicina no Malawi no que diz respeito aos Clinical Officers e Medical Assistants, encontrei um artigo muito interessante: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2657565/#!po=75.0000

Eu vejo pessoas a morrer por falta de informação, por recorrerem tarde de mais ao hospital, mas também por falta de recursos! O Malamulo precisa de ajuda, de donativos - se tiverem esse desejo, podem fazê-lo em http://www.adventisthealthinternational.org/article/27/how-can-i-help/financial-donations e direccionar para este hospital em particular.

Gostava de ter tempo para escrever tudo isto da forma mais bonita e correcta possível, mas o tempo é algo que não abunda...
Digam-me, por favor, os que têm interesse, que temas gostariam que eu abordasse ou que perguntas têm para me fazer, pois passa-se aqui tanta coisa que eu nem sei o que hei-de contar.

Eunice

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Dias de folga - Zomba e Liwonde


Apesar de ter ido para o Malawi com outro propósito, tirei uns diazinhos para viajar e conhecer um bocadinho do país (quase nada), o que foi óptimo para descansar! Acho que foram os únicos dias em que não meti os pés no hospital...

Eu e mais dois amigos planeámos visitar Zomba e Liwonde. Para tal, tivemos que ir primeiro ter a Bantyre para arranjar um carro que nos levasse aos nossos destinos. E como se viaja a um preço razoável de Makwasa para Blantyre, a segunda cidade mais importante do Malawi? Nos maravilhosos "mini bus"! Já ouviram falar de carrinhas de 10 lugares que levam quase 20 pessoas, por vezes algumas com cabeças, e não só, de fora? É isso mesmo... No caso da nossa viagem, tivemos que trocar duas vezes pois não há directos e até uma galinha usufruiu desse meio de veículo maravilhoso!

Em Blantyre, diga-se, cidade muito (pouco) evoluída, é possível comprar coisas no supermercado a que estamos habituados (mais ou menos!), e assim o fizemos, após o que seguimos viagem para Zomba através de estradas tudo menos bem equipadas para longas viagens de carro...

Em Zomba, caracterizada por uma montanha, apenas passeámos pela montanha e comprámos frutos silvestres vendidos à beira de uma pequena estrada, no meio do nada, a caminho do topo. Em Liwonde, para além de descansarmos, fizemos um safari de barco, onde pernoitámos ao som dos hipopótamos, e um mini safari de carro (game driving) no Liwonde National Park. Vimos elefantes, crocodilos, aves e, claro, muitos hipopótamos, que deixavam apenas as orelhinhas de fora quando o barco se aproximava. Por terra, vimos veados, kudus, macacos, e outros, mas segundo o condutor não foi um bom dia, pois poucos animais apareceram.
Foi, de facto, maravilhoso desfrutar da natureza que Deus criou, principalmente durante a estadia no barco. Ver o nascer do sol ao som da melodia mais natural possível, em pleno lago, sem nada artificial à volta, sem quaisquer construções ou luzes foi lindo…






domingo, 1 de setembro de 2013

Laqueações Tubárias (Bilateral Tubal Ligation)

Alguns de vós concerteza já ouviram falar de um método contraceptivo irreversível que consiste na interrupção do canal que liga os ovários ao útero – as trombas de Falópio -, de modo a que a mulher nunca mais engravide. Em Portugal, este procedimento chama-se Laqueação Tubária e faz-se, normalmente, em mulheres que já têm um número considerável de filhos e/ou um número considerável de anos e não desejam ter mais filhos nem usar outro método contraceptivo. No fundo, é um corte em ambas as trompas através de uma cirurgia tem que se tem que “abrir a barriga”. Eu tive o privilégio de ajudar a fazer 5 ou 6 deste “very simple procedure” (cirurgia muito simples), como dito pelo clinical officer que as fazia – exacto, o procedimento requer um clinical officer e um ajudante, que neste caso fui eu. Se estão espantados, esperem pelo resto… Este “very simple procedure”, em que se tem que fazer um corte na barriga, abrir o peritoneu, mexer lá dentro (às vezes vem a tripa para fora) e etc., aqui é feito numa salinha (não num bloco operatório), sem roupas cirúrgicas, sem máscara, só com luvas e material esterilizado, e … só com anestesia local! Exactamente, sem anestesia epidural ou geral. Não imaginam o meu espanto! Principalmente quando a primeira senhora se estava a queixar imenso... Enfim, faz-se, e todas as que vi correram bem. O clinical officer Ezekiel já chegou a fazer várias dezenas por dia noutro hospital do Malawi e diz que corre bem e que é muito simples, portanto se eles não estão preocupados nós também não devemos estar, pois num país em que os recursos são poucos, isto constitui um bom método de controlo da natalidade ;) E esta é a tal sala onde se fazem as BTL.

Makwasa Market

À sexta-feira, Makwasa, vila a que o Malamulo pertence,  enche-se de gente no mercado semanal, onde são vendidos alimentos, entre os quais feijão, banana, papaia, variados vegetais (os quais alguns desconheço), roupa, tecidos e objectos diversos como em todos os mercados, mas embora estejam a pensar que a variedade é grande, no que toca a alimentos não é assim tão vasta. As únicas frutas que se vendem aqui são estas duas e outra que não conheço, mas que também não é muito apreciada, portanto imaginem as minhas saudades de maçãs!
As refeições aqui em casa são à base de feijão, soja ou salsichas de soja, “rape” (uma couve), arroz/massa/sima (que é o prato típico do Malawi, tipo puré feito de farinha de milho), molho de tomate, e às vezes tomate e papaia. Ah e bolo, o Jasmin está sempre a fazer bolos ou muffins!
Resolvi, então, experimentar fazer sopa de legumes como fazemos em Portugal (que é desconhecida, pelo menos da forma como a fazemos e o que usamos, tanto pelos Malawianos como pelos outros internacionais que aqui estão) com os vegetais que encontrei no Mercado de Makwasa numa sexta-feira (dia 23/08). Encontrei algo parecido com courgette, beringelas, cebolas, batata doce e feijão verde. Com cerca de 800 kwacha (menos de 2€) deu para fazer uma panela muito grande de sopa, que deu para muitas porções. Podem ver o resultado em baixo…
Foi bastante apreciada, tanto pelos habitantes cá de casa como por alguns amigos malawianos a quem dei. Alguns até me pediram que lhes ensinasse. Então, durante a última semana, repeti e convidei  alguns malawianos -  a Tisungani, a Esther e o Felix - para a fazerem comigo e ficarem para jantar. Foi muito agradável :)









sábado, 24 de agosto de 2013

Sábado

O Sábado é um dia especial. Foi um dia que Deus criou para que estivéssemos mais perto Dele e fizéssemos o Seu trabalho. Foi algo que nos deu para nosso benefício.

"E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera." (Génesis 2:2-3)

"Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou."(Êxodo 20:8-11) 

Digo-vos que é um prazer chegar ao final do dia de sexta-feira e começar o Sábado. Jesus guardava o sábado, como ordenado por Deus ("entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler." Lucas 4:16), mas quando foi necessário ele curou pessoas ao sábado. Curar alguém que está doente é considerado trabalho?
Aqui, o hospital ao sábado funciona apenas com o essencial: enfermeiros, um clinical officer "on call" (de chamada) e um médico também de chamada, ou seja, são chamados quando é preciso alguma coisa, mas pode acontecer passarem o dia no hospital.
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
Lucas 4:16"
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
Lucas 4:16
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
Lucas 4:16
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
Lucas 4:16
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
Lucas 4:16
E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
Lucas 4:16

O meu primeiro Sábado aqui, há uma semana atrás, foi muito bom. A Escola Sabatina e o culto não foram na igreja do Malamulo, mas sim numa parte do hospital que mimetiza uma igreja para os estudantes da faculdade daqui. Mas não estava nada vazia, estavam mais de 100 pessoas. Antes da escola sabatina houve cerca de 30 minutos de momentos musicais e posso dizer-vos que é LINDO ouvir os malawianos cantar. Assim que a congregação toda começa a cantar parece um côro angelical ensaiado exaustivamente com diferentes vozes numa harmonia perfeita, mas eles apenas o fazem naturalmente. Aqui não há instrumentos ou playback, a música é apenas feita com as suas vozes, e é muito bonito.

Muito agradável foi ter almoçado em casa de uma família daqui, com a qual tenho passado tempo e que posso agora levar no coração, pois tornaram-se meus amigos. Eles prepararam com muito carinho a refeição para mim e para o Dr Pearce, que já os conhecia desde o ano passado, quando esteve cá, e foi muito bom :) bem como o passeio.
Por vezes não se sabe onde vai ocorrer a escola sabatina e o culto, mudam de local constantemente (hospital, igreja, nas aldeias), tanto que hoje foi ao ar livre no meio de uma aldeia. Durante a maior parte do tempo, era eu a única não-malawiana junto deles todos, mas claro que tentava cantar as músicas em Chichewa :) Para os interessados, tenho vídeos que poderei mostrar posteriormente.



Eunice

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Guest house e Malamulo Hospital Pictures

Imagens maravilhosas da guest house, ou seja, do meu palácio aqui no Malamulo :P E um exemplo de refeição maravilhosa preparada pelo Alec: Feijão, arroz, soja, vegetais - MUITO BOM! :) A outra é um corredor do hospital.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Living in Malawi

Olá!! Tem sido complicado aceder à internet e das vezes que consegui é muito lenta e praticamente não funciona. Pois bem, tenho aprendido. Por agora tenho estado com o Dr. Pierce (Medicina Interna, especialista em HIV) e com os clinical officers, medical assistants e enfermeiros na “General Ward”, que é a enfermaria geral, e tenho visto desde doentes HIV positivos (grande parte deles), Tuberculose, Meningite, Pneumonias, etc. Os Malawianos são realmente fortes! Há dois dias atrás chegou uma rapariga de 20 anos com uma Hb de 3,0 mg/dl e satO2 de 77%, HIV+ e com história de tuberculose (portanto num estado muito mau), e hoje já estava a andar normalmente pelos corredores e a sorrir de volta quando sorríamos para ela. Só para terem uma ideia dos recursos, não havia oxigénio suficiente para todos, então tivemos que retirar temporariamente o oxigénio de um doente que provavelmente tem DPOC (uma doença pulmonar que impede os doentes de respirarem normalmente, principalmente quando é exacerbada por infecções) para colocar nesta rapariga e, depois desta estabilizar, levámos de volta para o senhor da DPOC pois a saturação de O2 estava a baixar muito. Parece muito fácil na Europa ou nos EUA! Uma das particularidades que ocorre de forma diferente aqui é que os doentes podem e devem ter sempre alguém a acompanhá-los enquanto estão internados, um “guardian”, ou seja, quer seja de dia ou de noite, está sempre alguém sentado perto deles, mas por vezes vão rodando dentro da mesma família. Parece-me que eles são muito ligados à família. Hoje, por volta das 12h, estávamos num quarto, que tem cerca de 8 camas, a examinar um doente, e de repente, quando damos por nós, estavam umas 20 pessoas a mais sentadas no chão ou nas camas, perto dos doentes, e todos a olhar para o que estávamos a fazer. Nós começámos a perguntar uns aos outros “o que é que se passa aqui?”, “o que é que eles estão aqui a fazer?”, “é uma festa?”. Mas não, pelos vistos é o que acontece normalmente, apesar de ainda não nos termos apercebido. Ou seja, quando chega a hora de almoço, que é hora de visitas, a família, separada devido a um membro estar no hospital, vem toda visitar o doente, e por visitar digo estar sentados perto dele sem fazer nada! É culturalmente interessante… Para os que estiverem “clinicamente interessados”, depois tentarei colocar alguns casos que vou vendo por aqui. Eunice

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Primeiro dia no Malawi

           Olá família e amigos!
           (Sorry, english speakers, I didn’t have time to write it in portuguese and english).
Só agora consegui dar notícias usando a pen de internet de um médico cá de casa. Tenho que comprar um cartão de forma a poder ter internet mas não sei quando conseguirei fazê-lo.
Bem, verei o que posso contar-vos neste bocadinho que tenho disponível…
Durante a viagem conheci pessoas interessantes e foi bom passar o tempo com eles, portanto os vôos, apesar de cansativos e longos, pareceram mais rápidos. Apesar disso, foi bastante cansativo pois não consegui dormir quase nada no avião. Quando cheguei a Blantyre nunca pensei que estivesse tanto calor (está o mesmo que em Portugal agora nos dias quentes) dado que aqui é o fim da estação fria. O aeroporto é hilariante! Andamos apenas cerca de 50 metros do avião para o aeroporto em si e quando entramos lá dentro basicamento parece uma casa com as admissões para o país e as malas. Ao fim de um pequeno corredor, lá estava o Senhor Kachunga com um cartaz a dizer “Welcome to Malamulo Hospital Eunice Parcelas”.
A viagem de Blantyre até ao hospital (cerca de 80km) demora cerca de 1,5 horas, mas nós demorámos mais porque passámos por outras clínicas. À medida que nos afastamos da cidade as estradas são péssimas, cheias de buracos, ou não existem sequer, mas cá chegámos nós, já de noite – exacto, às 18h é noite cerrada aqui! A minha primeira impressão da guest house (casa das visitas) não foi a melhor – as portas muitas vezes abertas com mosquitos a entrar, não necessariamente limpinha e cheirosa como as nossas casas, só com redes nas janelas e não com vidros, a banheira sem cortinas e com um pequeno tubo apenas. Enfim… Mas acho que ao fim de um bocadinho me habituei (nós é que estamos mal habituados!).
Após acomodar-me, fui apresentada às outras pessoas da casa (muito simpáticas), conversámos e convivemos durante algum tempo e depois fui descansar.
No meu primeiro dia no hospital, a cerca de 200m da casa, foi-me feita uma mini visita e deu para ter uma noção geral. Os doentes pagam cerca de 100 kwacha por dia para estar na enfermaria geral, sem refeições, mas há um anexo com melhores condições e com refeições que é substancialmente mais caro (mas barato face ao custo real). Para terem noção, 100 kwacha são menos de 30 cêntimos. O resto é o hospital (Loma Linda penso eu) que suporta (e suporta muito) pois tem que pagar a muitos trabalhadores – é por isso que é um hospital missionário. É, também, maior do que eu imaginava e tem muitos departamentos, sendo que a maioria deles funciona sem um médico à frente, ou seja, os “clinical officers” (não há em Portugal, mas é tipo um ajudante de médico, entre um enfermeiro e um médico em conhecimento e formação, por assim dizer) e os enfermeiros, praticamente todos do Malawi, têm mais autonomia, sendo que os médicos são chamados quando é preciso se já não estiverem nesse departamento. O hospital é relativamente grande e tem, neste momento, 2 ou 3 médicos especialistas e 1 residente de cirurgia. Digo-vos, isto é MUITO diferente daquilo a que estamos habituados e eu sei que já o sabemos e estamos fartos de dizê-lo, mas é ainda mais real quando o vemos - após passar mais tempo aqui poderei contar melhor.
Passei grande parte do meu dia na Maternidade. Quem faz os partos são enfermeiros e clinical officers (até cesarianas podem fazer!), mas aqui nem sabem o que é uma epidural! E qual campo estéril – só luvas esterilizadas e já é muito bom! Eles perguntam se as mulheres em Portugal não sofrem desta maneira nos partos, entre outras coisas... É muito giro aprender com eles, como vivem e funcionam, e eles têm gosto em ensinar.
Muitos de vós devem estar-se a perguntar “E a comida?” A comida é muito boa posso dizer-vos!! Temos um cozinheiro, o Alec, que deixa comida feita para todas as refeições, e cozinha muito bem! Logo quando acordei, hoje de manhã, tinha papas de aveia acabadas de fazer, cha rooibos, pão, manteiga de amendoim, etc. Em baixo, poderão ver foto…
Portanto, basicamente, até agora estou a gostar muito! Os Malawianos são muito amigáveis e ficam contentes quando lhes damos atenção ou tentamos falar Chichewa – ah isto é outra barreira, a maioria dos doentes não fala inglês, portanto têm que ser os clinical officers, malawianos, a falar com eles e traduzir.

                Despeço-me aqui do belo Malawi,
                Eunice

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

"A mim o fizestes"

No ACNAC de Desbravadores, que ocorreu de dia 1 a 11 de Agosto de 2013 na Costa de Lavos, foi proposto aos desbravadores e respectivos dirigentes fazer uma especialidade da ADRA - Adventist Development and Relief Agency (http://www.adra.org) -, o que foi feito pela primeira vez em Portugal. Essa especialidade foi de Serviço Comunitário.
Foi bastante enriquecedor, pois para além de termos tido alguma formação teórica e base bíblica de como esse trabalho foi ordenado por Deus, foi realizada também a componente prática. Essa consistiu em:
- Trabalho no próprio parque ("em casa") - foram pintadas paredes e muros, feito trabalho de pioneirismo, demolida uma parede, construídas mais mesas, etc.;
- Distribuição de cabazes de alimentos para um mês a famílias carenciadas específicas;
- Experiência de quase um dia a viver com muito pouca água, de modo a percebermos o esforço que muitas populações que não têm acesso a água têm que fazer de modo a poderem matar a sede, cozinhar, lavar a loiça, tomar banho, etc.;
- Uma tarde em que mais de 200 jovens saíram à rua e bateram às portas para trabalhar naquilo que as pessoas precisassem, quer nas suas casas quer nos quintais - limpar a casa, jardinagem, acartar materiais, arrumar, etc.

Jesus disse: "Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." (Mateus 25:40), ou seja, quando servimos os outros estamos também a servir Jesus e isso é algo fascinante, dado que Ele próprio veio para servir e não para ser servido.
Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Mateus 25:40
Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Mateus 25:40

Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Mateus 25:40

Isto inspirou-me a fazer um blog com foco na vida de serviço e no sentido e motivos dessa. Por outro lado, amanhã partirei sozinha para o Malamulo Hospital, no Malawi, onde vou ficar um mês, e irei partilhar aqui a experiência que espero que seja essencialmente de serviço.

Aqui deixo-vos o link do hospital - http://www.malamulohospital.org/. Darei notícias quando puder...

Fiquem em paz :)
Eunice